Artigo

Acesso aberto Revisado por pares

1560

Visualizações

 


EDIÇÃO ESPECIAL NEURO

Exames de imagem no auxílio diagnóstico da neurite óptica

Neuroimaging for the diagnostic assessment of optic neuritis

Leonardo E. Ariello; Mário L. R. Monteiro

DOI: 10.17545/eOftalmo/2024.0002

Este artigo pertence à Edição Especial Edição especial Neuro

Neurite óptica (NO) é uma doença inflamatória aguda do nervo óptico que pode ocorrer de forma isolada ou associada a outras doenças desmielinizantes do sistema nervoso central, como neuromielite óptica (NMO), doença associada a glicoproteína da mielina do oligodendrócito (MOGAD) e mais frequentemente a esclerose múltipla (EM). O diagnostico atual da neurite óptica envolve dados clínicos e exames complementares dentre eles as imagens por ressonância magnética (IRM)1. Neste trabalho, mostramos o papel e a importância da RNM, não apenas para o diagnóstico das NO, mas como auxílio na diferenciação da neurite óptica isolada de outras doenças desmielinizantes do sistema nervoso central.

A NO ocorre tipicamente em adultos jovens do sexo feminino. A perda da acuidade visual geralmente é acentuada e progressiva ao longo de dias, com nadir entre 20/40 e conta dedos. Dor periocular que piora à movimentação ocular e precede a perda visual é relatada em 90% dos casos. As pupilas são isocóricas, mas observa-se um defeito aferente no olho acometido. O fundo de olho pode mostrar edema de papila, mas pode também ser inteiramente normal, no caso da neurite retrobulbar. A perimetria classicamente revela um escotoma central ou cecocentral como o evidenciado na Figura 1, numa paciente com NO e acuidade visual de conta dedos no OD. Os exames sorológicos na maioria das vezes são normais e líquido cefalorraquidiano pode evidenciar discreto aumento da celularidade e presença de bandas oligoclonais em pacientes com EM. A IRM de órbitas geralmente mostra hipersinal nas sequências T2 nas porções orbitárias e pré-quiasmáticas do nervo óptico, associada a realce pelo meio de contraste (Figura 2A, lado direito). A IRM de encéfalo é importante para mostrar lesões com hipersinal em T2 justacorticais com focos de hipersinal na junção calososseptal (Figura 2B). No exemplo acima, feito o diagnóstico de NO a direita e observados sinais de doença desmielinizante multifásica foi iniciada pulsoterapia com metilprednisolona 1 grama/dia por via endovenosa, por 5 dias. Houve boa evolução com melhora importante da acuidade visual do OD até 20/25.

 


Figura 1. A perimetria manual de Goldmann revelou-se normal no olho esquerdo (A). No olho direito um escotoma com as miras V/4e, I/4e, I/3e e I/2e (B), representando uma perda central do campo visual da paciente.

 

 


Figura 2. Na imagem A, observamos hipersinal em T2 nas porções retro-orbitárias e pré-quiasmáticas do nervo óptico à direita (A, seta branca), associada a realce pelo meio de contraste paramagnético na sequência T1-Gad (A, seta amarela). Na imagem B observamos hipersinal na sequência FLAIR na junção calososseptal (B, seta branca) e substância branca justacortical (B, seta amarela). A presença de lesões características supratentorias já configuram disseminação no espaço e tornam diagnóstico de esclerose múltipla mais provável para o caso.

 

O diagnóstico atual da NO envolve dados clínicos e de exames complementares2. Dentre estes, destacamos o papel central da IRM que permite com sensibilidade de 95%, detectar o processo inflamatório do nervo óptico3. Além disso, a distribuição, extensão e aparência do processo inflamatório do nervo óptico e órbita são critérios avaliados em conjunto que ajudam no diferencial das NO.

Por exemplo, sabemos que o acometimento bilateral dos nervos ópticos é mais comum na NMO e MOGAD do que na EM. Lesões que envolvem o quiasma óptico e trato óptico são mais vistos na NMO. Neurites longitudinalmente extensas, caracterizadas por acometimento maior que 50% do nervo óptico são mais frequentes na NMO e MOGAD. O envolvimento perineural do nervo óptico, ou seja, perineurite, é mais típico na MOGAD4,5.

Em conclusão, os avanços nas técnicas de imagem como a IRM tornaram essa modalidade fundamental na propedêutica das neurites ópticas. Com alta sensibilidade, a IRM vai além do diagnóstico de neurite óptica, auxiliando no diferencial das doenças desmielinizantes, com impacto em prognóstico e tratamento.

 

REFERÊNCIAS

1. Bennett JL. Optic Neuritis. Continuum (Minneap Minn). 2019; 25(5):1236-1264.

2. Petzold A, Fraser CL, Abegg M, Alroughani R, Alroughani D, Alvarenga R, et al. Diagnosis and classification of optic neuritis. Lancet Neurol. 2022;21(12):1120-1134.

3. Kupersmith MJ, Alban T, Zeiffer B, Lefton D. Contrast-enhanced MRI in acute optic neuritis: relationship to visual performance. Brain. 2002 Apr;125(Pt 4):812-822.

4. Ramanathan S, Prelog K, Barnes EH, Tantsis EM, Reddel SW, Henderson APD, et al. Radiological differentiation of optic neuritis with myelin oligodendrocyte glycoprotein antibodies, aquaporin-4 antibodies, and multiple sclerosis. Mult Scler. 2016;22(4):470-482.

5. Akaishi T, Sato DK, Nakashima I, Takeshita T, Takahashi T, Doi H, et al. MRI and retinal abnormalities in isolated optic neuritis with myelin oligodendrocyte glycoprotein and aquaporin-4 antibodies: a comparative study. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2016;87(4):446-448.

 

INFORMAÇÃO DOS AUTORES

» Mario Luiz Ribeiro Monteiro
https://orcid.org/0000-0002-7281-2791
http://lattes.cnpq.br/283589747518026
» Leonardo Eleuterio Ariello
https://orcid.org/0000-0002-7031-2419
http://lattes.cnpq.br/1417602536827866

 

 

Financiamento: Declaram não haver.

Conflitos de Interesse: Declaram não haver.

Recebido em: 17 de Outubro de 2023.
Aceito em: 30 de Outubro de 2023.


© 2024 Todos os Direitos Reservados