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Editorial

Video Científico: considerações sobre sua importância e produção

Scientific videos: considerations regarding their importance and production

Fernando Cançado Trindade1,2

DOI: 10.17545/eOftalmo/2023.0001

 

 


Dr. Fernando Trindade.
Juiz Internacional Honorário Convidado
Festival de Filmes da ASCRS 2019
San Diego, Califórnia, EUA
Maio de 2019

 

A utilização crescente de vídeos nas apresentações científicas atesta o triunfo da imagem dinâmica sobre a imagem estática. A imagem em movimento (dinâmica) facilita muito a memorização: ninguém se esquece, por exemplo, de cenas de filmes vistos há décadas, ao contrário de alguma matéria lida há menos tempo. O vídeo tem um grande poder de síntese. É aquele velho ditado: uma imagem vale mais do que mil palavras, ainda mais a dinâmica, com os inúmeros recursos que atualmente dispomos. Em qualquer área do conhecimento humano o vídeo representa o meio mais eficiente de informação e de educação. Basta lembrar da revolução que o YouTube (2005) causou democratizando com eficiência e rapidez a informação.

Os atuais Festivais de Filmes Científicos já incorporados nas grades dos grandes congressos de nossa especialidade representam uma excelente oportunidade por exemplo, para divulgar uma pesquisa inovadora, uma nova técnica cirúrgica, um caso desafiador, uma abordagem diferente da habitual para lidar com uma determinada complicação. Deve-se ressaltar aqui que a American Society of Cataract and Refractive Surgery (ASCRS) foi pioneira em festival de vídeos científicos, no início da década de 80, sendo logo seguida pelas outras grandes entidades internacionais como, por exemplo: European Society of Cataract and Refractive Surgery (ESCRS), American Academy of Ophthalmology (AAO), Asia- Pacific Association of Cataract and Refractive Surgeons (APACRS), Brazilian Association of Cataract and Refractive Surgery (BRASCRS).

Inúmeros avanços na área da cirurgia da catarata dos últimos anos foram inicialmente apresentados no Festival de Filmes da ASCRS. Vale salientar: Capsulotomia anterior contínua, pelo Gimbel em Boston em 1985 (mais tarde denominada capsulorhexis anterior); Uso da triamcinolona para facilitar a visualização do vítreo, pelo Burk na Philadelphia em 2002; Técnica de Phaco-Chop, pelo Nagahara em Seattle em 1993; Anel de Malyugin, pelo Malyugin em San Francisco em 2006 e mais recentemente a Técnica de Fixação Escleral do Yamane em New Orleans em 2016.

Estive presente em todos esses eventos e pude testemunhar o enorme impacto que essas inovações causaram ao serem apresentadas, sendo também prontamente aceitas e incorporadas pela comunidade oftalmológica em todo mundo.

Observa-se atualmente em certas publicações, a citação de filmes apresentados em congressos. Desta forma, o filme científico pode ser considerado como referência científica, à semelhança do poster ou do tema livre.

Seguem algumas considerações para que um filme seja bem avaliado nesses festivais. Elas são fruto do aprendizado que tive após ter participado de vários concursos de filmes em inúmeros congressos nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Tive também a experiência de ser jurado algumas vezes aqui no Brasil nos congressos da BRASCRS e a honra de ter sido convidado em duas oportunidades para ser o “Honorary International Guest Judge”, nos congressos da ASCRS de Washington em 2005 e de San Diego em 2019.

A minha primeira recomendação é que o filme seja preparado com muita antecedência, sem pressa, curtindo o processo de produção.

Como a duração permitida para os vídeos nestes festivais é relativamente curta - ao redor de oito minutos -, é importante que o produtor tenha um forte espírito de síntese na divulgação de seu trabalho, invento, técnica, complicação, etc. Naturalmente, é indispensável que o filme seja bem editado, sem exageros nos efeitos especiais, com narração clara e trilha sonora agradável. O título do filme, de preferência deve ser curto e atrativo (“catchy title”), o roteiro bem claro e conciso. Deve-se iniciar o filme salientando o objetivo do mesmo. É importante que o filme prenda imediatamente a atenção do expectador, que seja bem didático, objetivo e com imagem e som com excelente definição. A imagem gravada deve ser aquela vista pelo cirurgião no microscópio (12 horas fica abaixo) ou pelo examinador na lâmpada de fenda (12 horas fica acima). A locução não precisa ser de profissional da área, mas, deve ser bem clara, com ritmo normal, linguagem apropriada e obviamente inteligível, caso ela seja feita em outra língua, como Inglês, por exemplo. O tema escolhido do filme deve ser importante, com mérito científico, de interesse da especialidade, de preferência original, com aplicabilidade e que traga alguma contribuição relevante. Deve-se escrever primeiro o roteiro (script) - o que se deseja mostrar - para depois encaixar/ajustar as imagens selecionadas no mesmo.

Vê-se com frequência produtores, no afã de transmitir todo seu conhecimento no assunto (e no pouco tempo que dispõem) acelerar na locução ou exagerar na quantidade de imagens, tornando o filme confuso (busy video), cientificamente denso mas desagradável de ser visto. Lembrar sempre que informação em demasia dificulta o acompanhamento e confunde o expectador. Volto, então, a enfatizar a importância de se ter espírito sintético para fazer um bom filme de curta duração.

Outras recomendações que merecem registro:

- Deve-se evitar mostrar várias cenas ao mesmo tempo, fundo musical que possa distrair ou mesmo competir com a narração - o volume do fundo musical deve diminuir quando entra a narração.

- Períodos longos sem narração certamente diminuem a concentração do jurado/expectador.

- Animação computadorizada deve ser precisa e com finalidade única de facilitar o entendimento; em demasia, ela revela falta de conteúdo, e irritante quando é inútil.

- Nunca se deve colocar vários slides (imagens estáticas) no filme: desta forma, a apresentação deixa de ser em filme, para ser em slide-show.

- Sempre que puder não utilizar voz gerada em computador (computer generated voice).

- Muito cuidado para não fazer promoção comercial de determinado produto ou mesmo pessoal. Os jurados desses concursos de vídeos são pessoas experientes que captam imediatamente outros interesses que não sejam o científico-educacional, razão precípua desses festivais.

- Uma pitada de humor fino e ironia sutil são sempre bem-vindos e apreciados.

- Antes do término deve-se salientar os pontos principais do filme e finalizá-lo com uma boa conclusão.

Boa sorte na produção de seu vídeo!

Dr. Fernando Cançado Trindade foi: Professor de Oftalmologia da UFMG (1983-2008); Presidente da SBCII (1994-1996); Premiado em Festivais de Filmes em congressos da ASCRS (San Diego-1998, Seattle-1999, Philadelphia-2002, San Francisco-2003, San Diego-2007, San Francisco-2009) e Grand-Prizes (Boston-2000, Chicago-2008); em congressos da ESCRS (Paris-2004, Berlin-2008, Barcelona-2009, Amsterdam-2013) e no congresso da APACRS (Singapore-2013).

 

INFORMAÇÃO DO AUTOR

»Fernando Cançado Trindade
http://lattes.cnpq.br/4962878683577497
https://orcid.org/0000-0002-6800-8266

 

 

Fonte de financiamento: Declara não haver.

Conflito de interesses: Declara não haver.

Recebido em: 9 de Janeiro de 2023.
Aceito em: 11 de Janeiro de 2023.


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